Entenda os impactos no caso do 8 de janeiro e a reação do STF

A Câmara dos Deputados aprovou, nesta quarta-feira (XX), a sustação da ação penal no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o deputado Delegado Ramagem (PL-RJ), acusado de envolvimento nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. A decisão, que passou por 315 votos a favor, 143 contra e 4 abstenções, foi promulgada como Resolução 18/25 e gera repercussão direta no processo que também envolve o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros sete acusados.
O pedido de sustação foi apresentado pelo Partido Liberal (PL) e aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) antes de ir ao Plenário. O relator, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), argumentou que os crimes imputados a Ramagem — como tentativa de golpe de Estado e organização criminosa — teriam sido cometidos após sua diplomação como deputado federal, em dezembro de 2022.
O Que Diz o STF Sobre a Suspensão?
O Supremo Tribunal Federal, porém, tem entendimento divergente. Em ofício enviado pelo ministro Cristiano Zanin, a 1ª Turma do STF afirmou que a suspensão só valeria para crimes cometidos após a diplomação — no caso, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado (relacionados aos atos de 8 de janeiro).
Quanto às outras acusações (abolição violenta do Estado Democrático e tentativa de golpe), o STF mantém o processo em andamento. Além disso, o tribunal reforçou que não há sustação possível para outros réus, como Bolsonaro e ex-ministros.
Polêmica no Plenário – Imunidade Parlamentar ou Tentativa de Anistia?
A decisão gerou intenso debate na Câmara. Enquanto a base governista acusou a medida de ser um “trenzinho da anistia” para os envolvidos no 8 de janeiro, a oposição defendeu que a Câmara estava apenas cumprindo a Constituição.
- Fernanda Melchionna (Psol-RS): “Os golpistas de ontem e de hoje querem anistiar todos os núcleos que comandaram a tentativa de golpe.”
- Lafayette de Andrada (Republicanos-MG): “A Constituição permite sustar a ação penal completa, não apenas partes dela.”
O Papel de Ramagem no Suposto Golpe
Delegado Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), é acusado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de integrar o “núcleo crucial” da tentativa de golpe. Segundo a denúncia, ele teria elaborado documentos para descredibilizar o sistema eleitoral em 2022.
Próximos Passos – STF Pode Barrar a Decisão?
Apesar da aprovação na Câmara, o STF pode rejeitar a sustação total, mantendo o processo em partes. Especialistas apontam que a decisão final será um teste para a relação entre os Poderes.
O Papel da Abin e as Acusações Contra Ramagem
Novos detalhes revelam que Delegado Ramagem, enquanto diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) em 2022, teria coordenado um sistema de monitoramento ilegal contra autoridades, jornalistas e adversários políticos. Relatórios internos obtidos pela imprensa indicam que a Abin, sob sua gestão, usou softwares de espionagem para rastrear movimentos de ministros do STF, parlamentares da oposição e até mesmo candidatos à Presidência.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) aponta que essas ações faziam parte de um esquema de desestabilização institucional, com o objetivo de criar narrativas falsas sobre fraude eleitoral. Documentos apresentados ao STF mostram que Ramagem assinou ordens de vigilância contra servidores do TSE e produziu relatórios distorcendo dados de segurança pública para justificar intervenções.
Conexões com Milícias Digitais e Fake News
Investigadores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) descobriram que Ramagem se reuniu com empresários de marketing político acusados de operar redes de fake news. Um dos alvos era o sistema de urnas eletrônicas, com campanhas para desacreditar o TSE.
- Trecho de Delação Premiada: Um dos investigados afirmou que Ramagem solicitou relatórios “técnicos” para embasar ataques ao processo eleitoral.
- Relatório da PF: Identificou transações financeiras suspeitas entre contratados da Abin e empresas ligadas a bolsonaristas radicais.
Reação Internacional e Riscos à Democracia
A Organização dos Estados Americanos (OEA) emitiu um alerta sobre “tentativas de obstrução da Justiça” no Brasil, citando a votação da Câmara. Já o Departamento de Estado dos EUA classificou o caso como “preocupante para a estabilidade democrática”.
- The Washington Post: Destacou que a sustação da ação penal pode incentivar novos ataques às instituições.
- Transparência Internacional: Advertiu sobre “sinalização de impunidade para crimes de alta gravidade”.
Próximos Passos: STF Decide se Aceita ou Rejeita a Sustação

O ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF, já adiantou que não reconhecerá a sustação ampla. Sua decisão final deve:
- Manter o processo por crimes anteriores à diplomação (golpe e organização criminosa).
- Exigir provas concretas de que os atos de 8/1 foram diretamente comandados por Ramagem.
- Analisar pedidos da PGR para desvincular processos (evitando benefício a outros réus).
Cronograma: A análise do STF está prevista para agosto/2024, com possível repercussão geral sobre imunidade parlamentar.
Por Que Essa Decisão Pode Mudar o Jogo Político?
- Efeito Cascata: Se o STF rejeitar a sustação, outros deputados investigados podem perder argumentos similares.
- Eleições 2026: Ramagem é pré-candidato ao governo do RJ; condenação o inabilitaria politicamente.
- Futuro da Abin: Revelações sobre espionagem ilegal pressionam por reforma na inteligência brasileira.