Líder espiritual, médium e educador, Divaldo Franco faleceu aos 98 anos em Salvador, deixando um legado de luz e caridade que marcou gerações
Na noite de terça-feira, 13 de maio de 2025, o Brasil perdeu uma de suas figuras mais influentes na seara espiritual. Aos 98 anos, partiu Divaldo Pereira Franco, um dos maiores divulgadores do Espiritismo em escala mundial, médium de extensa obra literária, orador incansável e fundador de uma das instituições sociais mais relevantes do país: a Mansão do Caminho.

Divaldo faleceu em Salvador (BA), cidade onde construiu sua trajetória como missionário da paz, após enfrentar um câncer na bexiga diagnosticado no final de 2024. Segundo boletim divulgado por sua equipe, a causa da morte foi falência múltipla dos órgãos. Seu falecimento causou grande comoção entre espíritas, religiosos e admiradores de diversas crenças, que o reconhecem como um símbolo do amor incondicional e da dedicação ao próximo.
Origens humildes e despertar mediúnico precoce
Nascido em 5 de maio de 1927, em Feira de Santana (BA), Divaldo era o caçula de uma família de treze irmãos. Desde a infância, experimentou fenômenos mediúnicos, tendo visões e diálogos com entidades espirituais — experiências que, inicialmente, geraram temor e incompreensão entre seus familiares. Aos quatro anos, relatou ter visto o espírito de sua avó falecida, um dos primeiros episódios que sinalizariam seu dom natural para a mediunidade.
Na adolescência, enfrentou uma série de conflitos internos e crises de saúde que, segundo ele mesmo relatava, estavam diretamente associadas à sensibilidade espiritual ainda não compreendida. Foi apenas aos 18 anos, após mudar-se para Salvador, que encontrou no Espiritismo uma explicação e uma missão clara para sua existência.
Encontro com o Espiritismo e missão assumida
Em Salvador, foi acolhido por Ana Ribeiro Borges, conhecida como “Dona Naná”, que lhe apresentou os fundamentos do Espiritismo codificado por Allan Kardec. A partir dali, Divaldo mergulhou profundamente nos estudos da doutrina e decidiu dedicar sua vida à prática do bem e ao esclarecimento espiritual das massas.
Em 1947, fundou o Centro Espírita Caminho da Redenção, núcleo inicial do que mais tarde se tornaria a Mansão do Caminho, projeto social que uniria ação educativa, atendimento médico, assistência social e difusão doutrinária.
A Mansão do Caminho: onde a fé se traduz em ação
Instalada no bairro de Pau da Lima, em Salvador, a Mansão do Caminho é considerada uma das maiores e mais completas obras sociais de inspiração espírita no mundo. Fundada oficialmente em 1952 em parceria com Nilson de Souza Pereira, a instituição funciona em um complexo com mais de 80 mil metros quadrados, abrigando 43 edificações que acolhem milhares de pessoas diariamente.


Ali, crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social recebem educação de qualidade, acompanhamento psicológico, cuidados médicos e odontológicos, além de apoio alimentar e orientação espiritual. Mais de 30 mil crianças já passaram pelas escolas mantidas pela Mansão, e muitos deles se tornaram profissionais, pais de família e voluntários que perpetuam o ciclo de transformação iniciado por Divaldo.
Um orador que atravessou fronteiras
Dotado de uma capacidade oratória singular, Divaldo percorreu mais de 2.500 cidades brasileiras e 71 países, onde proferiu mais de 20 mil palestras, sempre abordando temas como amor ao próximo, reforma íntima, espiritualidade na vida prática, autoconhecimento, perdão e fé racional.
Sua linguagem simples, afetuosa e acessível conquistava desde intelectuais até pessoas com pouco conhecimento doutrinário. Era comum ver plateias emocionadas com suas histórias e reflexões espirituais.
Obra literária monumental
Como médium psicógrafo, Divaldo Franco psicografou mais de 260 livros, sendo a maioria deles atribuída ao espírito Joanna de Ângelis, sua mentora espiritual, além de outros como Manoel Philomeno de Miranda e Victor Hugo. Essas obras ultrapassaram 10 milhões de exemplares vendidos, foram traduzidas para 17 idiomas e distribuídas em mais de 60 países.
Os direitos autorais de suas publicações sempre foram revertidos integralmente para a manutenção da Mansão do Caminho, demonstrando seu compromisso incondicional com a causa do bem.
Reconhecimento no Brasil e no mundo
Ao longo de sua vida, Divaldo recebeu inúmeros prêmios, títulos honoríficos e homenagens. Foi nomeado Embaixador da Paz no Mundo, recebeu comendas de mérito religioso, humanitário e educacional e representou o Brasil em eventos na ONU e na Unesco. Mesmo com tanto prestígio, mantinha-se humilde, morando em um pequeno quarto dentro da própria Mansão do Caminho e com rotina voltada à oração, estudo e atendimento espiritual.
Velório e despedida
O velório do médium ocorre nesta quarta-feira, 14 de maio, no ginásio da Mansão do Caminho, entre 9h e 20h. Atendendo a um desejo pessoal, o corpo será velado em caixão fechado. O sepultamento está marcado para a manhã de quinta-feira (15), no Cemitério Bosque da Paz, em Salvador.
Um legado que ultrapassa o tempo
Divaldo Franco foi mais do que um médium ou palestrante. Foi um educador de almas, um homem que fez da fé uma ferramenta de ação concreta, e da palavra um bálsamo de cura e despertar. Sua trajetória se confunde com a história recente do Espiritismo brasileiro, e sua ausência física apenas reforça a grandiosidade de sua presença espiritual.
Deixa como legado uma geração de espíritas formados à luz do amor, da caridade e da responsabilidade moral. Sua missão continua viva em cada criança salva da miséria pela Mansão, em cada livro que consola um coração, e em cada espírito que despertou para a luz por meio de sua voz.
A Flechada do Cacique
– por Breno Marx
Como alguém que sempre encontrou na Doutrina Espírita respostas para as dores da alma e inspiração para servir ao próximo, não posso deixar de expressar minha profunda admiração por Divaldo Franco. Suas palavras sempre tocaram meu coração com clareza, doçura e sabedoria. Tive a oportunidade de acompanhar muitos de seus ensinamentos, e posso dizer que ele foi, para mim e para tantos outros, um verdadeiro farol em tempos de escuridão. Sua partida deixa um vazio, mas seu legado é eterno — de amor, caridade e luz. Que sigamos firmes, como ele nos ensinou, semeando o bem e a paz.
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Que o senhor Divaldo descanse em paz🙏ele já cumpriu sua missão aqui na terra!